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Campanha do público para exibir Bitols no Canal Brasil já arrecadou milhares de adeptos

Por Lourenço Favari

Longa narra uma noite na vida de uma banda underground no início dos anos 90, com um nome horrível, futuro incerto e uma mulher misteriosa que causa desavenças internas e adivinha seus futuros

Cena do longa metragem "Bitols" de André Arieta

Há uma semana, a cineasta gaúcha biAh weRTHer, do coletivo ..Cinema8ito.., iniciou uma campanha nas redes sociais para que o Canal Brasil exiba o longa metragem Bitols, dirigido por André Arieta e que contou com o trabalho de biAh como distribuidora e diretora de arte.

Tudo começou há meses, segundo a cineasta, quando o coletivo apresentou proposta de exibição do trabalho ao Canal Brasil. biAh pontua que depois de um bom tempo “na geladeira”, a emissora acenou negativamente: “Reconhecemos o valor artístico do filme, mas não exibiremos”.

André Arieta, do coletivo ..Cinema8ito.., diretor do filme Bitols

A campanha para a exibição do trabalho, que começou há cinco dias,  já arrecadou milhares de tuites e retuites, além de uma grande quantidade de emails enviados pelo público ao canal. Outras redes como Orkut e Facebook também foram instrumentos para a ação.Nós não temos lobistas ou conhecidos famosos nestes veículos ou dentro de entidades ou no MinC ou em qualquer lugar poderoso, mas não pensávamos em desistir”, postou a cineasta no blog do filme.

A iniciativa que começou tímida agregando os fãs do longa Bitols, arrecadou em seguida o apoio de artistas, cineastas e grupos espalhados pelo país inteiro. Para Bruno Nicoletti, da Fudidos & Malpagos e que apóia o movimento, a manifestação é emblemática para a constante luta por canais de exibição para o filme brasileiro independente. “Apoiamos o grupo coletivo ..Cinema8ito.., pelo que ele representa enquanto movimento de resistência a um cinema mercadológico e hegemônico, tão pouco afeito às questões artísticas mais prementes para a consolidação de uma cinematografia nacional consistente”, enfatiza.

A ação pode abrir precedente para diversos grupos e cineastas independentes do país a terem uma janela a mais para suas produções. O trabalho realizado pelo coletivo ..Cinema8ito.. pode ser apenas o início de uma movimentação que por certo não acabará tão cedo. A Revista Cineminha realizou entrevista exclusiva com biAh weRTHer, veja logo abaixo.

Para participar da campanha é só tuitar:

Quero @BITOLSfilme na programação do @canalbrasil #BITOLSCANALBRASIL

Ou pedir em outras redes sociais.

coletivo ..Cinema8ito..

O núcleo de cinema gaúcho coletivo ..Cinema8ito.. encabeçado pelos artistas biAh weRTHer e André Arieta inicia suas atividade em 2000.Voltado para produção, difusão, debate e experimento, o coletivo funcionou como um agregador de artistas independentes. Em sua trajetória publicou a revista Cine8 e foi responsável pela segunda maior lista de discussão de cinema do Brasil, a lista Cine8.

Nos primeiros anos, como ativista sem fins lucrativos, entre as muitas ações estiveram o cine.clube.8ito, o Cineclube Virtual e Flõ festival do livre olhar, um festival itinerante voltado para a vídeo-arte, transmídia e artes integradas.

Quando o núcleo passou a ter uma atividade profissional e não abrir mão de cachês para assegurar a qualidade das iniciativas, nasceram projetos como o Cinema na Mochila, que tem como ideal levar cinema experimental para todo o público possível. O projeto realizou mostras comentadas e oficinas por todo o Brasil e também no exterior, a partir de parcerias com outros coletivos.

Filmografia:

Suco de Tomate (35mm) – prêmio de roteiro do IECINE-RS

O Fim (super oito) – Prêmio pela linguagem em Gramado

Pornografia (intervenção na película super oito) – Prêmio do Júri Popular em Londrina

A verdade às vezes mancha (16mm) – Prêmio de Montagem e do Júri Popular on Line em Vitória

Lilith… a última viagem do século (super oito)

Self (intervenção na película super oito) –  Prêmio pelo conjunto da obra em Campinas,

UMA (DV)

Borboletas no Estômago (MiniDV)

Cantilena (MiniDV)

BITOLS – primeiro longa-metragem dos 8itos e dirigido por André Arieta. O trabalho tem sido um sucesso de crítica e sua distribuição é totalmente independente, num formato que modificou os paradigmas do circuito de exibição no Brasil.

RC: Como foi o contato com o Canal Brasil?

biAh weRTHer: Foi um contato comercial normal. Fomos ao endereço que eles disponibilizam para quem quer oferecer filmes ao canal, seguimos as orientações, enviamos o filme e ficamos por alguns meses fazendo contato, pois nos pareceu que tinham interesse.

biAh weRTHer iniciou a campanha "Bitols no Canal Brasil"

RC: Qual foi a resposta da emissora?

biAh weRTHer: Bem, eles nos deixaram bem chocados com a resposta curta e grossa: “Reconhecemos o valor artístico do filme, mas não exibiremos”.

RC: O que você pensou?

biAh weRTHer: Eu mesma não me surpreendi, porque sei como funciona isto. O André, que estava cuidando deste assunto e esperando meses por eles, que iam protelando uma decisão, é que ficou triste. Porque muita gente todo o dia pede o filme em cidades que não estamos conseguindo chegar. Para ter uma idéia, tem dezenas de pessoas aguardando inclusive entrega de DVDs, porque eu comercializo tudo sozinha. Nos dividimos como dá pra cuidar do Bitols e seguir com os outros filmes e artes visuais. Temos sempre vários projetos paralelos ao Bitols, claro, vivemos disto, não se para nem domingo.

Eu tive na hora a idéia de uma campanha. Sabia que iria dar essa repercussão porque sou eu quem cuida dos retornos aos fãs dos filmes, ao público que quer conhecer e tudo mais. Na hora já fui elaborando a campanha e aguardei um final de semana pra deixar tudo bem enxuto e jogar na internet. Daí as pessoas foram aderindo, até porque muitas e muitas ainda não conseguiram ver o filme e querem muito assistir. Na verdade a adesão está apenas começando. Por falta de tempo, ainda nem cheguei diretamente nos formadores de opinião, jornalistas, produtores e tal.

RC: Por que você acredita que eles não querem exibir?

biAh weRTHer: De início, penso que eles, por só conhecerem cineastas do tapete vermelho e bons moços, simplesmente não nos valorizaram. Deixaram a gente na geladeira e daí não viram valor em exibir. Afinal, do RS, eles já tem seus parceiros, que por certo nem precisam passar por curadoria. São negócios. E nós não parecemos lucrativos aos olhos deles, com certeza. Depois que as pessoas começaram massivamente a enviar e-mails pedindo o filme, eles tomaram a atitude equivocada de quem não está acostumado a exibir o que o público pede. Eles programam de cima pra baixo, isto ficou claro.

Quando pediram nosso telefone imaginamos que eles quereriam repensar, negociar de algum modo porque o público de TV a cabo é cliente. Entretanto, a curadora estava chateadíssima com nosso público. Queria que fizéssemos pararem de pedir o filme (como se isto fosse possível, com gente de várias cidades escrevendo a eles e retuitando).
Ela demonstrou o conceito equivocado: “Se vocês pretendem exibir conosco, este é o caminho errado”. Ou seja, a mobilização do público é o caminho errado. Talvez para eles nós devêssemos arranjar um padrinho importante, ou sei lá. A mim, ficou uma impressão de que ficamos marcados e não será só o Bitols que eles nunca exibirão. Espero estar errada, mas eles estão realmente chocados com o fato de termos um público que se manifesta.

Personagem Rita em um beijo roquenrol em cena de Bitols

RC: O que espera com essa movimentação na internet?

biAh weRTHer: Olha, eu comecei pensando em conseguir um espaço que se diz ‘casa do cinema brasileiro’. Queria algo simples, mais uma janela pra meu filme. Mas após o modo como a responsável conversou conosco, eu senti que é algo além do meu umbigo. O que estamos mobilizando é as pessoas que querem que o cinema independente brasileiro tenha tela.  Notei que isto vai passar do assunto Bitols e queria muito que outros coletivos fizessem o mesmo. Mobilização popular. É aí que pega. Eles ficaram tão assustados porque o público recebe o que vem pronto. Isto pode mudar, o modo como estamos distribuindo nossos filmes é só um dos exemplos.

RC: Você acredita que a emissora irá exibir o filme?

biAh weRTHer: Espero que sim. Na verdade, prefiro acreditar que eles vão nos respeitar, sentar em suas salas refrigeradas, falar sobre nós não como punks barulhentos – que estamos longe de ser – mas como realizadores que merecem todo o respeito e que tem um público, cliente deles, que gostaria de ver nosso trabalho em seu veículo. Espero que eles revejam seu modo de pensar uma programação.

RC: Outros grupos e cineastas independentes estão ajudando o movimento?

biAh weRTHer: Eu notei hoje que coletivos começaram a se ligar. Eu comecei tudo falando direto com público, não com cineastas. Meu foco não era pensar em algo tão político (ingenuidade minha, pois começar tal campanha já foi confronto político), então fui a pessoas que me escrevem pedindo o filme em suas cidades. Foi pouco ainda, faltam milhares pra eu convocar a pedirem o filme no Canal Brasil. Mas hoje percebi cineastas, músicos, produtores culturais que retuitaram sem eu falar diretamente com eles. Isto me animou, vou seguir com a campanha.

RC: Voce acredita que isso abrirá precedente para outras produções independentes?

biAh weRTHer: Por certo!

RC: Até quando continua a campanha?

biAh weRTHer: Se você pensar bem, esta campanha existe desde que começamos e irá seguir por toda a nossa vida. A vida de quem não faz parte dos clãs, nós que somos de redes entre coletivos estamos sempre numa espécie de campanha, pois é o público que faz a coisa acontecer e não negociatas em salas engravatadas. Não pagamos lobistas, não
sabemos nada sobre isto. Somos artistas, apenas artistas.

RC: Voces pretendem fazer uma exibição simbólica em diversos pontos do Brasil. Como será isso?

biAh weRTHer: Neste domingo (27), por mobilização de artistas e público de Alegrete, na fronteira. (Aliás, o filme tem feito muito sucesso em todas as cidades de fronteira). Vamos aproveitar e pedir que pessoas façam sessões no mesmo horário. Que liguem suas twitcams, que mandem fotos dos amigos assistindo o filme. Tudo irá pro blog numa grande matéria. Eu acho que exibirei em casa ou num espaço cultural de uns amigos do teatro. É tudo em cima da hora, mas creio que será legal.

Mas tem algo maior! Semana que vem temos reunião com uma FM onde tenho muitos amigos que apresentam programas. A idéia é fazer sessões em parceria com eles, que tem o poder da mídia. E daí atender mais e mais pessoas que não viram o filme, mas ao mesmo tempo, seguirmos com o assunto Canal Brasil X Público;

Veja o Trailer de Bitols

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